A expressão “entrou água”, muito utilizada em Roraima nas décadas de 1960 e 1970, quer dizer algo como “não deu certo; furou”.
Criada entre “beradeiros”, termo usado para identificar quem morava na beira do rio, principalmente moradores da área que, por muitos anos, chamou-se Beiral, a expressão referia-se à entrada de água em lares e estabelecimentos comerciais, inviabilizando a continuidade de vida normal até que o nível do rio Branco baixasse.
Extinto o Beiral, construiu-se em seu lugar o Parque do Rio Branco, inaugurado pela Prefeitura em dezembro do ano passado. A obra majestosa certamente merece elogios, pois, além de acabar com o drama de antigos moradores e comerciantes da área Caetano Filho, pôs fim, também, a um dos maiores focos de tráfico e consumo de drogas no centro da cidade. Prostituição e criminalidade foram junto.
Fazendo parte do projeto, a Prefeitura de Boa Vista contratou Kobra, artista plástcio de renome internacional, para pintar enorme e colorido iguana em mural do Parque Rio Branco. Pago regiamente, com centenas de milhares de reais, Kobra terceirizou a obra, que foi executada por artesãos ou artistas desconhecidos. Pelo trabalho, os pintores de fato devem ter recebido alguns poucos caraminguás.
E eis que chegam as águas de março arrastando pau, pedra e, no fim do caminho, arrastam também a pintura do iguana projetado por Kobra, deixando a impressão de que o réptil ali exposto usa sua capacidade de mimetizar e se esconde de vergonha ao ver como se aplica mal o dinheiro público.
Resta saber se a obra tem garantia e se Kobra e seus terceirizados vão reconstituir a obra com produtos resistentes à entrada de água.